Os espaços "marginalizados" nas escolas e o que podemos fazer para melhorar este cenário

Talvez muitos professores não tenham percebido. 
Quem sabe os gestores das escolas e das mantenedoras estejam muito preocupados em proporcionar e adquirir novos recursos e também não tenham observado que muitos espaços de aprendizagem estão sendo marginalizados. 


Esquecidos por serem obsoletos ou modernos demais, laboratórios de informática, bibliotecas, laboratórios de ciências e mesmo notebooks e tablets estão longe dos olhos e mãos dos estudantes em muitas escolas.


Mas, por que poucos percebem esta marginalização, será necessidade de mais atenção de todos os envolvidos? Hoje eu compreendo que não é tão simples observar uma escola. Ouvir o que ela tem a dizer, o que a comunidade está pensando e o que está acontecendo em cada sala e, especialmente, com cada sujeito.

A escola é um sistema complexo, vivo e em constante evolução, o que torna o desafio de analisar uma instituição educacional ainda maior.

Na faculdade, me recordo claramente da Professora Maria Janine Dalpiaz Reschke testando a percepção da turma. Ela solicitou uma atividade de observação em uma unidade escolar. A tarefa pareceu muito simples para a maioria, e para mim não foi diferente. Visitei uma escola em meu bairro e fiz todas as anotações que julguei necessárias. Anotei o número de dependências, número de alunos, horários de funcionamento, cores da estrutura física e dados de patrimônio.
Certa que a atividade foi um sucesso, fui surpreendida pela minha Mestra solicitando que refizesse o trabalho. Não tinha captado a alma da escola. Me perguntei “Escolas possuem alma?” Hoje vejo com clareza. Ela não tem apenas uma alma, mas milhares.

Quando voltei para a escola a fim de refazer a atividade, mesmo contrariada, resolvi abrir o coração. Comecei minhas anotações já no caminho da escola. Citei as casas, as pessoas, o asfalto, as árvores e o clima. Observei os prédios da escola e vi que haviam rabiscos nas paredes e tentei entendê-los. Senti melhor as pessoas e por que estavam lá, mas o que mais me marcou foi encontrar espaços marginalizados. Se na primeira visita a escola possuía uma biblioteca, na segunda vez percebi que os livros estavam intactos. Não tinha ninguém na biblioteca. Ela estava trancada com chaves e demorou até que alguém gentilmente as encontrasse. O laboratório de informática estava fechado e, mesmo com o relato de que os alunos usavam constantemente, observei muita poeira nos mouses e teclados.

Nesta segunda visita observei durante o intervalo, que aqui em Porto Alegre chamamos de recreio, duas meninas espiando pelo vidro do laboratório de ciências. Elas estavam imitando o esqueleto didático que viam através do vidro. Quando perguntei se gostavam do laboratório de ciências, questionaram se eu era professora e um dia poderia mostrar lá dentro. Elas nunca tinham entrado em contato com aquele espaço “mágico” que viam pela vidraça.

Basta uma visita rápida por diferentes escolas e vamos constatar que muitos espaços escolares estão marginalizados pela falta de tempo do docente, pela burocracia que a própria escola cria, pela insegurança técnica/pedagógica e tantos outros fatores. Certamente refazer o trabalho mudou a minha visão e da turma da Professora Maria Janine. Entretanto, que esforços podemos fazer para que estes espaços não fiquem fechados, esquecidos e acorrentados pela burocracia e violência?

Acredito que nos cursos de graduação de pedagogia e licenciaturas é preciso ir além do conteúdo e aprender a ver a alma da escola. Por mais professores como a Maria Janine! Não podemos privar os estudantes do contato com a tecnologia, com as experiências de química e física, com o teatro e a quadra da escola. Não podemos deixar o modelo didático do esqueleto humano ser uma lenda na vida dos jovens.
Talvez possamos fazer mais e ajudar essas escolas a descobrirem como reativar esses espaços através da gestão do diretor e do planejamento didático dos professores. Devemos fazer mais do que oferecer os recursos e espaços, precisamos ajudar a vencer o medo e também despertar o interesse. Podemos oferecer oficinas, espaços digitais de discussão, formação continuada e até mesmo profissionais qualificados para estes espaços, mas se não falarmos francamente sobre esse problema o cenário não irá mudar.

Não podemos mais ficar em silêncio e achar compreensível a situação. Falar sobre o assunto é o primeiro passo para a mudança.

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